4 de setembro de 2020

The Witcher 3: Wild Hunt

  O terceiro e mais aclamado capítulo de uma franquia que se tornou extremamente popular no ano de 2015, ganhou centenas de prêmios e redefiniu o que deveria ser um RPG de mundo aberto, The Witcher 3: Wild Hunt é sim uma obra excepcional, mas ainda assim tem alguns problemas. Lançado no dia 18 de maio de 2015, o game foi produzido pela CD Projekt RED e foi um sucesso estrondoso levando o prêmio de melhor RPG e melhor jogo do ano no The Game Awards. Como um jogo com problemas tão explícitos consegue ainda sim ser tão bom, entrando facilmente no top 10 jogos de qualquer pessoa?

Jogabilidade 

Os combates do funcionam bem, os comandos para rolar, desviar e aparar ataques é bem fluido e satisfatório de se usar, é possível sentir o peso dos golpes quando enfrentamos adversários mais cotidianos, em contra partida o poder dos adversários mais fortes fica evidente quando o bruxo se depara com criaturas poderosas que dão um trabalho grande para ele, fazendo necessário o desenvolvimento de uma estratégia um pouco mais elaborada para derrotar os monstros. Em contra partida, quando Geralt não está em combate o controle sobre ele é bem pior, por vezes ficamos presos entre as arvores de forma inconsistente por exemplo (as vezes passamos por um espaço X e quando nos deparamos em outro local do mapa com uma situação muito parecida ele não consegue passar pelo locar), fazer algumas movimentações mais finas pode ser complicado também, as vezes ajustar o personagem frente à uma escada é mais difícil que derrotar uma Cocatriz, nas devidas proporções a sensação que fica é a da famosa movimentação de tanque, dos longínquos tempos do Playstation 1.  



As mecânicas de The Witcher 3 são bem construídas e geram uma variação grande, com uma arvore de habilidades bem diversificada que faz com que cada Geralt seja único, é possível abusar mais de suas habilidades de bruxo ou partir para  um combate armado mais robusto, aumentar os status ao usar um tipo de equipamento em específico e até melhorando o efeito de suas poções que melhoram de forma "artificial" as habilidades do personagem. O sistema de equipamentos também é bom e funcional, temos diferentes tipos de armadura que aumentam nossa resistência e também podem dar alguns bônus diferentes como resistência a um certo tipo de dano por exemplo, além disso é possível melhorar os equipamentos colocando pedras especiais neles, potencializando assim o dano de Geralt em vários aspectos diferentes, deixando a customização maior ainda. Apesar de funcional a falta de mais armas diferentes pode incomodar alguns ou até enjoar do combate a longo prazo, isso particularmente não foi incomodo mas a variação nos estilos de luta é bem pequena perto do que outros RPGs entregam nos dias de hoje, como em Monster Hunter por exemplo.

Gráficos

Certamente este é um dos jogos mais bonitos da geração, mesmo com um conteúdo massivo os detalhes gráficos não foram perdidos, pelo contrário o game tem um cuidado incomum com o seu visual e isso pode ser observado em diversas situações, as mais perceptíveis e impressionantes são as diferentes texturas e detalhes em cada peça de armadura, vemos partes de couro com metal em uma mesma calça com uma diferença muito grande na forma como a luz interage nos diferentes materiais. Outro exemplo magnifico do cuidado da CD Projekt são os cabelos e barba de Geralt que crescem de forma orgânica conforme o tempo que o jogador passa dentro do game.


As paisagens das cidades aqui são de tirar o folego pela sua beleza, mas também pela fidedignidade, o que ajuda muito na imersão ao game. Cidades na idade média não eram limpas e conservadas como muitos filmes fazem parecer, e este aspecto não aparece aqui, The Witcher traz boas representações de cidades grandes e pequenas vilas na era medieval, mostrando a parte boa e bela de tudo isso mas também a podridão e sujeira destes lugares, a melhor representação deste tipo de cenário que já vi em jogos eletrônicos.
Os personagens humanoides que aparecem são super detalhados e o trabalho nas expressões faciais, movimentação e a forma como interagem com os objetos é muito realista durante as cenas que são reproduzidas com a engine do game, praticamente tudo que pode ser feito sem as pré renderização é feito, mas essas cenas existem sim, elas aparecem em dois tipos de situação, a primeira é quando a narrativa fica 100 % em primeiro plano, com diálogos mais intensos e importantes, mas também em momentos de grande ação com lutas elaboradas e muito bem coreografadas, com tomadas e sequencias de luta que dão inveja em muitos filmes de Hollywood. Por fim, uma das poucas falhas no game é a falta de um modo fotografia, que poderia ser muito bem explorado devido aos lindos gráficos.


Áudio

Por vezes já foi dito em posts aqui do blog que o ideal é que os sons do game não se destaquem, pois normalmente isso ocorre pela falta de naturalidade com que eles se encaixam no contexto, mas aqui é o o oposto, os sons do título e principalmente sua trilha sonora  são sensacionais, até as criaturas fantasiosas que aparecem durante a aventura emitem resmungos, grunhidos, gemidos e ruídos que realmente parecem sair delas, tudo é natural e parece ser de verdade, é como se os produtores simplesmente tivessem gravado aqueles sons de animais reais.

 
A trilha sonora se destaca por aqui, as composições de Marcin Przybyłowicz evocam todo o ar medieval que o ambiente pede, traços da música Folk é presente em todos os momentos, o uso de instrumentos diferentes cria uma série de sons que causam uma sensação de estranheza a princípio mas o tom exótico torna tudo único e marcante. As cidades são vivas, as tavernas festejam e os combates empolgam, tudo isso é regido de forma sublime pelas músicas do jogo.

The Witcher 3 está disponível totalmente em português e com ótima dublagem, os personagens principais tem um trabalho incrível em volta deles e a experiencia se torna muito mais real e cativante quando ouvimos tudo em nossa língua materna, os personagens secundários também aparecem bem e com vozes competentes, infelizmente os NPCs não tiveram um cuidado dão grande, as vozes não estão ruins, mas não foram escolhas tão refinadas. Mas o que impressiona é a ferramenta criada para a movimentação da boca dos personagens, o som é processado por um programa de computador e faz os lábios mexerem de forma natural, tirando assim aquela estranheza existente devido a diferença do movimento labial e do som. Apesar disso a engine era um experimento ainda e tem alguns problemas de incompatibilidade em certos momentos, mas durante a maior parte do game o resultado é muito agradável. 

Enredo

A história de The Witcher é envolvente, imersiva e emocionante. Primeiro vemos a busca de Geralt por Ciri, uma garota com uma relação quase de pai e filha com ele, através dos reinos de Velen, Novigrad e Skellige. Após a busca e "resgate" da garota o game muda completamente o ritmo e o foco da história, começamos uma preparação para eventos próximos e temos um grande desenvolvimento de personagem e das suas relações. Enquanto na primeira parte somos apresentados aos personagens principais da história, grande parte do desenvolvimento ocorre durante a segunda metade. 

A primeira metade nos leva através de uma investigação em locais diferentes do mundo, conhecemos culturas, costumes, sociedades e locais completamente diferentes e isso vai cativando o jogador e levando ele a querer explorar e conhecer o mundo, também conhecemos um pouco sobre a personalidade de Geralt e principalmente de sua relação com Yennefer. 

Na segunda metade o que segura o jogador é a relação entre Geralt e Ciri, a química entre os dois é inegável e prende a atenção, vemos um lado muito mais humano e paterno do protagonista e isso impressiona, enquanto isso Ciri é mostrada depois de se desenvolver como pessoa e também seus poderes. O pesa da história muda e se torna muito mais emotivo, o que pode agradar uma parte dos players ou desanimar os jogadores que gostaram do Geralt mais "descolado" da primeira parte.


Se o enredo tem um problema é em grande parte por ser um jogo de mundo aberto, pois não tem uma ordem obrigatória para se fazer os eventos da primeira parte do game, com isso o jogador pode sair dos momentos iniciais do game e enfrentar inimigos de nível elevado (16) estando ainda nos primeiros níveis (entre 4 e 7), além da diferença de poder entre as criaturas e você dificultar muito certas missões, a história também fica fora de ordem, com fatos sendo apresentados antes do que deveriam, estragando em partes a experiência. 

Além disso o ritmo do enredo pode ser incomodo em momentos especificas, enquanto Ciri está sendo rastreada o ritmo é relativamente lento, Geralt se enfia em vários mini arcos dramáticos que funcionam bem de forma isolada, porém a motivação é saber mais sobre a história da garota desaparecida, então longas horas de gameplay eram recompensadas com pouca evolução na busca por Ciri, mas com grande evolução dentro daquele arco em especifico. Outra "barrigada" do enredo acontece perto do fim do game, pois, a longa preparação para a missão final é um tanto longa e a esta altura da aventura, qualquer um que esteja prestando atenção na história está ansioso para ver a resolução de toda a trama que foi apresentada até agora.


Bugs e mais bugs 

Apesar de toda a qualidade do jogo, o tamanho gigantesco e a ambição da CD Projekt RED em povoar e encher de conteúdo todo aquele mundo teve seu custo, muitos erros e problemas ocorrem, o que tira a magia em volta de um game tão bom, entre os principais problemas encontrados estão os seguintes: problemas no carregamento de textura, problemas de movimentação, tela fica embaçada durante os diálogos, problemas na movimentação com o cavalo, coisas que simplesmente não carregam em tela e inteligência artificial dos inimigos falha em certos pontos. Vamos aos detalhes de cada um desses bugs. 
 
Textura - Em diversos momentos as texturas de roupas e certas partes do cenário não carregam e tudo fica apenas um borrão de cor sólida na tela.
 
Movimentação - alçapões abrem e não é possível descer, como se tivesse um chão invisível, a impressão que passa é a de andar no ar. 
 
Tela embaçada - No começo de alguns diálogos com NPCs a tela fica completamente embaçada, tornando impossível ver as legendas inclusive.
 
Carpeado - A movimentação enquanto montado é muito inconstante quando andamos em terreno difícil, tornando extremamente desagradável tentar andar por terrenos difíceis.
 
Carregamento de objetos - Por vezes objetos importantes não carregam em tela, como caixas no cenário e outras coisas, chegou ao ponto de um lago inteiro em que eu estava navegando não carregar e navegar em uma canoa no nada.
 
Inteligência Artificial - Em certos momentos do jogo os inimigos não passam de um ponto X no mapa, sendo possível recuar e se recuperar enquanto os adversários estão parados na sua frente.

Considerações Finais 

The Witcher 3: Wild Hunt merece sim todos os títulos e elogios que recebe, a CD Projekt RED foi tomada por uma ambição gigantesca, buscando fazer um game nunca antes visto, cheio de conteúdo, com um mundo vivo e orgânico, as cidades pulsam vida, qualquer pequena coisa que você se proponha a fazer, uma história no mínimo bem construída vai ser apresentada. Como qualquer obra gigantesca e fora dos padrões de sua época o jogo tem sim teus problemas, mas isso não apaga seus feitos e suas qualidades.

As expansões de The Witcher 3 vão aparecer futuramente em um texto a parte, assim como Iceborne para Monster Hunter: World.


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